segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Acorda!

Acorda preta bonita
Já não é o mesmo
Já não conversa tanto
Já está incomodado
Já não te promete tanto amor

Acorda pretinha,
Já comeu outra
Já chupou outro
Já não transa contigo
sem pensar em outras outros

Acorda,
Já não te faz carinho
Já não te dá os mesmos poemas
Já tem outras pretas
Já deseja outros colos

Acorda, preta
Já não és tão bonita
Já te acha frágil
Já não te quer tanto
Já não se importa
com seus medos

Acorda pretinha,
Já vai embora
Já colocou ponto final
Já tanto não conversa
que não te disse

Acorda Preta-Bonita
Mesmo que te doa
Já doeram outras vezes
Mesmo que tu queira
Já não te quiseram outras vezes
Mesmo que ele vá,
Deixe que vá, já te fizeram deixar ir. 
E ele precisa de outro entre-lugar!

Acorda Preta
Acorda pra te encontrar bonita
Acorda para te fazer poesias
Acorda para te dançar
Acorda para te amar

Acorda Preta-Bonita
Deixas teu cacho-rastro em todo lugar
Libertas com teus gritos os sonhos mais rebeldes
Invades com teus lábios bocas e ouvidos
Fazes tua voz ser percebida
Moves o estagnado
Dás cor pro dia cinza

Acorda bonita preta,
pra beleza pura que tu és,
tal qual canta Caetano,
tal qual ele dedicou uma vez.

(Ellen Caroline)

terça-feira, 1 de novembro de 2016

Nazaré, Maria de

Escrevo para ti Nazaré de Maria
Para te revirar os sonhos por dentro
Encontrar algum contentamento
Que não te deixe esmorecer

Escrevo pra ti, Nazaré
Que mais um dia chegou
Mesmo com tudo que passou
E enfrenta a dor cotidiana do viver

Escrevo pra ti,
Que é Nazaré-mãe
Que mesmo na dureza de enfrentar tantas des-belezas
Permanece na firmeza de ver os filhos crescer

Escrevo pra ti,
Nazaré-trabalhadora
Que apesar de duras jornadas de trabalho
Se re-inventa na arte de criar os seus crochês, 
e na criatividade inerente ao seu ser 

Escrevo pra ti,
Nazaré-mulher, 
Que embora muitas vezes esqueça
É cheia de bonitezas
E faz a primavera florescer

Escrevo pra ti
Maria, Nazaré, mãe, mulher, trabalhadora
Para te lembrar da tua força e dos teus encantos
Para te dizer que dias melhores serão construídos
E que esse mundo precisa de você. 

Le

Ele foi à escola,
Desde pequeno, bem me lembro
Das risadas e das bobas piadas
[falavam do seu jeito]
Com toda coragem que lhe cabia
Ainda aos quatorze anos de alegria
Disse:
“pai, mãe... eu gosto de meninos”
Eles choraram.
Ele,
Se comove com a desigualdade,
Denuncia o machismo,
Honra sua identidade,
Sonha com outra sociedade.
Ousado,
Constrói aos dezessete anos,
A defesa da igualdade.
Resultado:
Pobre, gay, politizado.
O que querem?
Arrancar do menino os sonhos
Quando tantos dos seus sonhos já foram roubados
Lembra ele:
Do machismo-pai no seu viver
Do árduo trabalho da mãe para crescer
E da faculdade que gostaria de poder ser
Resiste!
Tentam dizimar a vivacidade dele e de tantos outros jovens-nós.
O que fazemos?
Permanecemos juntos, desde sempre, até a luta final
Contra todas as formas de opressão e contra a exploração de classe,
De punhos erguidos, pelo fim do capital.
(Ellen)