domingo, 19 de maio de 2019

Vida da morte


Eu não consegui parar
Porque você veio duas vezes
Na mesma semana
E me machucou tanto
Eu gritei
Tenho medo
Minhas mãos agora estão cheias de cacos
E você sorri cinicamente
Como quem me pede desculpas
Depois que me vê tentando matar
Coisas que eu, ingênua
achei que já tivessem morrido
No fim,
O que é pra morrer não morre
E o que poderia estar vivo
Morto está
É assim que me suicido
Um pouco a cada dia.

Abutres



Os abutres que vieram de dentro
Fugiram de mim
Não suportaram
Esse fardo

Fiquem!
Quero ser devorada
Levem a carne
[apodrecida]
Chupem o sangue
[que brota do útero]
Furem o coração
[pra fazer escorrer a dor]

Só me deixem os ossos
Que farei fogueira de mim mesma

terça-feira, 14 de maio de 2019

Teus olhos, minhas Três Marias


Olhos que me comovem
Quase que como poesia
Uma poesia inacabada
Fico tentando me [des]vincular
Do pouco que me dá.
Os pensamentos são confusos,
As sensações transmutadas.
E quando [nova]mente
Consigo ver as Três Marias
[Que com os dentes me arrancas]
Me dou por satisfeita
Em poder olhar-te
Uma vez mais
Na minha euforia
Com nosso gozo simultâneo. 


(Ellen)

Hereditário

Eu quis expulsá-lo de dentro
tentei vomitá-lo
saiu primeiro em forma de lágrimas
de grito, desespero
Depois veio no balde
Como pedaços de carnes podres
(indi) gestas dentro de mim
Cada uma
Um pedaço
(dos que se foram, que estão, e chegarão)
Mas me prendem para não ir
Se foi o avô
O primeiro pai
(que nunca chegou)
O segundo pai
(que nunca foi)
O primeiro namorado
(que nunca esteve)
Dentro de mim, eram um só!
Intragáveis
(não saíram todos)
Mas eu fui
Os deixei ali, tentando ser eu
Obá veio me buscar
De mãos dadas com mamãe Oxum!

(Resistência)