sábado, 21 de março de 2020

À Cachoeira




O avião descia torrencialmente
[Em direção a um prédio gigante]
Corri desesperadamente
Te olhei na multidão
Te agarrei pelas costas
[Quase que em posição fetal]
A Lapa, descomunal
Pedras arrojadas
[atravessavam todos os lados]
Involuntariamente,
Subi nos arcos
Te abriguei nos braços
[ancorei tua cabeça]
Mas sabe?
Àqueles dias ali
Eles eram ‘sonhos’
Agora mesmo,
Quando gotas de tristeza
escorreram pelo teu corpo
Eu sorrateiramente
tentei te cuidar
Eu te envolvi pelas costas
E abracei longamente
Queria chegar na tua alma
[e sinto que falhei]
Por fim entendi
Tem dores do tamanho daquele avião
[que colidiu com o prédio]
Tem mágoas grandes como pedras
[que foram arremessadas a todo tempo]
Egoísta que sou,
Achei que eu fosse um pedregulho
[de coragem]
Mas você
É uma rocha
FORTE [o suficiente para dar sustentação à vida]
GRANDE [o bastante para caber quedas da água]
Mãe, você é Cachoeira.
E está tudo bem
Se a água
não-dançar-sempre-igual.
Já me disse da música
que embala a vida
[de nós mulheres]
Me ensinou a ser água
[sempre corrente]
Você é abrigo para
esse corpo que é só,
pois somos nós.

(Ellen Caroline)

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